Tenho gêmeos entrando na adolescência.
Vê-los crescer é um privilégio, cercado de alegrias e preocupações. Acompanhar os gostos, os hábitos e a cultura deles é fonte de aprendizagem, estranhamento, quase uma sensação de que, às vezes, estou no lugar errado. Mas dentre tantas diferenças que cercam a minha geração e a dos garotos, uma que tem me chamado atenção é o completo desinteresse deles por aquele aparelho que fica lá na sala, e que insisto em ligar logo quando chego em casa, a televisão. Ela é quase um objeto meu e de minha esposa, porque eles têm os celulares, e não dão a mínima para o que se passa nela.
Verdade que insisto. Convenço-os a desligarem os seus aparelhos, para que a família junta possa assistir algo. Pode ser um jogo, uma comédia, um telejornal – certo, peguei pesado nessa última parte. Nada parece ser o suficientemente interessante para mantê-los focados naquilo que assistem através da grande tela daqui de casa. Entediados, logo pedem os celulares de volta, largando algo que começamos a ver juntos. É frustrante, e coloca em dúvida as capacidades que eles precisarão desenvolver para a escola e trabalho. Paciência, concentração e aprendizagem entre histórias e textos que têm começo, meio e fim com mais de 1 minuto de conteúdo.
Talvez essa preocupação toda seja de quem está envelhecendo, só isso.
A ironia disso tudo é que a minha geração cresceu ouvindo que muita televisão deixaria a gente bitolado, quase pessoas passivas e sem capacidade de reflexão. Existem vários videoclipes dá época da década de 1980 que começavam desse jeito. Tem ainda a música dos Titãs que canta assim: “É que a televisão me deixou burro demais…”.
Mas foi a televisão que ajudava a família a se reunir nas telenovelas – Roque Santeiro foi a minha preferida –, na tristeza da morte do Tancredo, nas vitórias do Senna, nos campeonatos das escolas de samba de Madureira. Notícias, programas e jogos inesquecíveis que precisavam que a gente ficasse olhando para o aparelho que era compartilhado com todo mundo, lá na casa dos meus pais.
Ficávamos juntos e o silêncio era para prestar melhor a atenção no que se passava no único aparelho de televisão que tínhamos. Diferente do silêncio de agora, onde está todo mundo em casa, mas cada um no seu mundo particular. Não sei qual é a solução, mas quero que eles vejam as histórias, reflitam e discordem daquilo que assistem. Juntos comigo e minha esposa.
E ainda insisto para que eles desliguem os celulares.
Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro é docente do Mestrado Profissional em Gestão do Trabalho e Coordenador do Curso de Educação Física da Universidade Santa Úrsula.
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