Se há alguma coisa que parece estar tomando conta das ruas no ano de 2021, essa coisa é a bicicleta.
Há inúmeros motivos para esse aumento: necessidade do distanciamento social, opção de exercício físico, consciência ambiental e construção de ciclovias, sobretudo nas grandes cidades.
Para reforçar, segundo dados da Aliança Bike – entidade que cuida desse setor –, o número de vendas de bicicletas cresceu 50% em média no Brasil, entre os anos de 2019 e 2020.
E com essa pressão pelo uso, acredito, mais conflitos entre ciclistas e demais usuários das ruas, quer sejam eles pedestres, motociclistas e demais motoristas devem estar acontecendo.
A bicicleta é mais um ingrediente em nosso espaço urbano, que ao olhar estrangeiro pode parecer caótico, mas que tem seus códigos e conhecimentos só para quem usa, vive e experimenta.
Além disso, todos nós desde a infância, temos uma relação com a bicicleta.
Se sua família teve condições de compra, você provavelmente ganhou uma nova quando criança, com desenhos de super-heróis no quadro. Mas pode ser que você tenha usado uma emprestada de irmãos e primos, bem usada e com pneus e freios bem sofríveis. O que importava mesmo era aprender a andar, de preferência sem precisar das rodinhas, tirando uma de cada vez, mostrando habilidade e se exibindo por aí.
Talvez por isso a bicicleta seja sempre lembrada como algo que não esquecemos de usar nunca, algo que fica na nossa memória corporal e que serve de exemplo quando deixamos de fazer algo por muito tempo… “é igual a andar de bicicleta, não esquece nunca”.
Se a bicicleta veio para ficar em nosso cotidiano é difícil saber, mas sei que é preciso nos ajustarmos em termos de educação, no respeito urbano e civilizatório. Ainda estamos longe disso.
Dois exemplos que tenho de memória:
Dois anos atrás marquei um passeio de bicicletas com alguns colegas europeus. Por precaução resolvi, em cima da hora, desmarcar. Eu não me senti seguro sobre o entendimento e percepção deles sobre nossas ruas e trânsito. Eu sei pode ter sido um exagero e, claro, não significa que nas cidades do mundo mais preparadas para o uso de bicicletas não aconteçam acidentes. Acontecem. Eu só não quis arriscar.
O outro exemplo é sobre um colega que, em meados da década de 1990, saía de sua casa na zona sul do Rio de Janeiro e ia para o centro da cidade de bicicleta. Virou até notícia. Lembro dele mostrando sua foto no jornal, em que ele vestia terno e gravata e pedalava. Estava feliz por fazer algo tão diferente que merecia ser até entrevistado. Não tem nenhuma novidade em fazer isso hoje.
Bom, se na vida a única coisa certa são os ventos da mudança, é preciso nos prepararmos para que o novo venha para ficar, com todos os riscos e oportunidades.
A bicicleta é esse novo. Mais pessoas aderem ao uso, e soluções precisam ser encontradas pelos gestores públicos, com a ajuda da iniciativa privada e sociedade.
Assim, vamos nos adaptar, com educação e urbanidade.
Boas pedaladas!
Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro é docente do Mestrado Profissional em Gestão do Trabalho e Coordenador do Curso de Educação Física da Universidade Santa Úrsula.
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